Na última
quarta-feira antes do Natal, véspera do dia 24 de Dezembro, fui tirar um
cochilo no sofá depois de um farto almoço em família, ao som agradável de gotas
de chuva fraca que batiam levemente no vidro da janela e coberta por um lençol
macio dos pés a barriga. Ainda dava pra sentir o cheiro do pudim de leite pela
casa toda. Foi um final de ano atarefado, um a correria para terminar o ano
letivo na escola, entrega de trabalhos finais, festinhas de confraternização e
já pensando como seria a vida no próximo ano que iria começar. Ou seja,
qualquer mínimo tempo para descansar o corpo desanimado e tirar uns minutos de
preguiça era valioso. Eu estava meio isolada de todos, pois estava sem muitas
esperanças nas pessoas, conseguia animar a todos, menos a mim mesma. Coloquei o despertador do celular para tocar
em uma hora. Mas ele acabou despertando tão rápido que nem parecia que tinha
dormido. Sonolenta, desliguei o barulho do celular, me espreguicei e sentei
olhando fixamente para o chão. Logo em seguida, o interfone de casa tocou. Toda
vez que atendia alguma visita, aparecia uma imagem ao vivo da calçada da rua
pelo visor de segurança filmado por uma câmera externa escondida no muro. As
mulheres e primas novas da família tinham saído para passear numa feira de
orquídeas da cidade e uns homens tinham ido ao vizinho tomar um café assistindo
o jornal de esportes, outros voltaram ao trabalho por ainda ser meio de semana.
-“Pois não?” Eu disse.
Não tinha
ninguém pelo visor da câmera e muito menos responderam meu atender. Até que de
repente um aviãozinho de papel entrou pela janela aberta da copa onde ficava o
interfone, vindo pelo céu e não pela casa vizinha, pousando próximo ao pé do
banquinho do balcão. Coloquei o telefone do interfone no gancho novamente e
desconfiada peguei o papel do chão e abri com curiosidade. Estava escrito em
letras maiúsculas: “A VIDA É BELA, ACREDITE”. Comecei a raciocinar quem e de
onde tinha vindo aquele recado. Achando estranho, tomei coragem, peguei a chave
do portão e tentando fazer pouco barulho, abri rápido e coloquei a cabeça para
fora de casa. E sentada na calçada estava um antiga amiga que não a via há uns
quatro anos. Ela passou por dificuldades familiares e saiu de casa no impulso
depois de discutir com os pais sobre começar a trabalhar para ajudá-los, a
partir disso ela ficou incomunicável, não soube nem para onde tinha ido. Lembro
que sua família não a admitia por ser uma moça que queria trabalhar, achavam
que teria que aprender a fazer bolos caseiros para os irmãos venderem. Além
disso, a mãe bebia muito e o pai sofria de depressão por estar desempregado por
não conseguir economizar gastando com jogo do bicho. Ao sentar ao lado dela na
dúvida de saber se ela estava bem, muda sem conseguir pronunciar nenhum som,
ela virou a cabeça para me olhar. Estava com um sorriso lindo que nunca a tinha
visto tão bonita. Abraçamo-nos ao mesmo tempo rindo sem trocar uma palavra,
felizes por nos rever já que nunca mais tínhamos nos visto desde que tinha lhe
emprestado dinheiro para ajudar a continuar seu caminho, seja qual fosse sempre
dizendo a ela em ter fé em Jesus Cristo. Até que ela me soltou, e na
permanência do silencio ela me entregou uma caixa de presente de natal,
continuando a sorrir e a me olhar.
-“Eu acreditei, mesmo com tudo, que existia um
lado bom e que a vida era realmente linda de se viver.” Emocionada e
sorridente, observou me abrindo o presente, com gestos para abrir tampa da
caixa.
-“Uau!!!”
Falei com voz mais alta e alegre pelo que tinha dentro do pacote.
Era uma passagem de ida e volta para Ilha
Grande-RJ, para acompanhá-la na virada do ano, com um papel escrito: “Jesus é
lembrado por todos mais em época de Natal, mas Ele se lembra de nós todos os
dias e me fez lembrar-se de você, querida amiga. Que Deus possa renovar suas
esperanças assim como renovou a minha quando achei que era impossível continuar.
Muito obrigada. Eu amo você. Topa viajarmos juntas?”
-“E aí, o que
me diz? Só me responda se sim ou se sim. Hahaha!” Debochando e brincando, ela
me deu um soco leve no ombro.
- “Você tem
certeza? Não vai te prejudicar esse gasto desse presente?” Perguntei.
-“Meus pais
mudaram de cidade e estão morando numa fazenda. Fizemos as pazes a poucos dias.
Quando os reencontrei todos tinham aceitado Jesus, mudando toda a relação da
família de forma surreal, pararam de reclamar e começaram a aceitar com respeito
uns aos outros. Eles foram viajar para o nordeste visitar uns amigos que
estavam precisando de apoio. Estou de férias agora. Você esta falando com a
mais nova gerente da empresa internacional de telemarketing do Brasil. Guardei
dinheiro para realizar essa surpresa, não me fará falta, ao contrário.” Disse ela.
- “Meu Deus,
cara! Parabéns! Nossa, não sei o que dizer. Fico muito feliz pela sua vitória,
e te ver assim me deu um gás que eu precisava. Bom, passe o Natal conosco, não
quero que passe sozinha. Daí então eu topo ir com você. O que me diz?”
Questionei.
-“Poxa, não me
lembro como é passar uma ceia com pessoas queridas. Combinado, eu aceito.”
Respondeu ela, agradecida.
Assim, ela
entrou para comer um pedaço do pudim de leite do almoço e me fez companhia
todos os dias até o dia da viagem de ano novo, alegrando todos da minha família
com sua visita. Foi um Natal incrível e de muita união, capaz de renovar todos
os ânimos e agradecer imensamente a Deus por todos àqueles que passam em nossas
vidas. Ilha Grande é um paraíso de lugar tropical. Foi o presente mais bacana
que alguém tinha me dado, até por que veio de uma pessoa especial. Ter a
companhia de uma velha amiga como uma nova pessoa foi a maior benção para
fechar o ano melhor do que eu esperava, da melhor forma possível. Na vida
realmente não precisamos colecionar coisas e sim de bons momentos.
Autor: Ariane Araujo Liberati